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Logo que comecei a trabalhar no Escritório do Lunardelli, travei amizade com os colegas e me transferi do Hotel Atalaia para a Pensão Jataí, que ficava na rua Pio XII, esquina com a rua Professor João Cândido, onde hoje existe o Edifício Santa Mônica. Na pensão Jataí, fiz amizade com vários colegas de outras firmas, José Lourenço Fusco, que trabalhava no escritório da Cia. Almeida Prado; Luiz Delvéchio, que casou-se com a filha de dona Sinhazinha; Lauro Dutra, proprietário da Alfaiataria Dutra; Sebastião tipógrafo e outros tantos bons amigos da pensão.
Ao lado da Pensão Jataí, mais ou menos a três casas, estava localizado o Cartório de Registro Civil, que era dirigido pela senhora Alice Buce, esposa do senhor Guilherme Braga de Abreu Pires. Ali trabalhava como escrevente juramentada, Antoninha Louvércio. Logo que a vi pela primeira vez, fiquei gostando dela por ser uma mocinha simples e graciosa. Houve um longo tempo de flert à distância e somente no dia 8 (oito) de Junho, um domingo, já noitinha, nos encontramos em uma festa de quermesse da igreja matriz, hoje a bela Catedral de Londrina. A Antoninha estava lá passeando com algumas colegas. Quando ela passou por mim, falei bem baixinho: - "eu gostaria de conversar com você em particular". Para mim foi o dia mais feliz de minha vida. Parecia que eu havia encontrado a pessoa que me faria feliz por toda vida.
A foto de cima foi a primeira que a Antoninha
me deu de presente, ao anoitecer, na porta do Correio – 1949.Esta foi a primeira foto que eu dei para a Antoninha em 1949.
Vocês podem imaginar como um rapaz apaixonado pode ser inspirado para escrever coisas bonitas, só pode ser de um coração apaixonado que quer extravasar sua alegria para convencer a outra pessoa de que realmente ela é amada e vejam como foi fluindo na mente daquele que ama, algo sobre esse dia, como esse encontro ficou marcado na sua vida. Vejam só o que escrevi um ano após aquele primeiro encontro.
"8 (Oito) de Junho de 1.949"
Jamais pensei que esta data feliz e risonha viesse desempenhar tão importante papel em minha existência. Sim meu amor, tudo me lembra aquela noite festiva de 8 (oito) de junho, em que a alegria parecia rir em todos os semblantes. Ainda me parece ouvir nitidamente os acordes maviosos das suaves melodias que a banda de música executava para maior brilhantismo dos festejos.
Foi nesse dia inesquecível que tive a suprema ventura de contemplar extasiado, pela primeira vez o teu rosto encantador, que encheu de poesia e romantismo a minha vida vazia. O meu pensamento voa a todo instante para junto de ti, tenho até a impressão de que vivo sonhando acordado, e nos dias em que não te vejo, sinto-me como me faltasse o próprio ar que respiro.
O teu amor passou a ser toda razão do meu viver. Viver longe de ti minha querida, não é viver, é morrer aos poucos.
E como me sinto feliz em saber que também pensas em mim, pois não creio que haja maior felicidade do que aquela que nasce da certeza de um amor correspondido. E o amor que te devoto é tão puro, tão sincero como essas afeições verdadeiras que começam na terra e ainda continuam no céu.
Faz apenas um ano que nasceu este grande amor. Oxalá que Deus o abençoe e o faça perdurar por muitos e muitos anos.
Do teu carinhoso e sincero – Zezinho (meu apelido na época)
O amor é capaz de tudo, na época eu gostava de escrever coisas bonitas, imaginem como surgiu estes versos.
Este nosso amor
Quando nasceu nosso amor?
Não sei, nem tu, só o sabe Deus.
Assim como nasce uma flôr.
Morena dos sonhos meus...
Amarga ventura, doce martírio,
um misto de dor e encanto,
tem ele a pureza de um lírio,
tem a harmonia de um canto.
Que Deus nos conserve assim
vivendo este amor infindo.
E que jamais tenha fim
este amor mais que lindo.
Londrina, 20 de janeiro de 1.950.
Zezinho
As pessoas, às vezes, sem querer, parece que advinham a vocação de outras pessoas. Naquela época eu já percebia pela sua espiritualidade e religiosidade, que ela seria uma boa mãe. Os acontecimentos falam pela gente.
Quando escrevi em seu álbum de recordações os versos seguintes, eu nunca ia imaginar que a Antoninha ia ser mãe de meus dez filhos.
Ser Mãe
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra,
O coração! Ser Mãe é ter no alheio
Lábio que suga o pedestal do seio.
Onde a vida, onde o amor cantando vibra.
Ser mãe é ser um anjo que se libra
Sobre um berço dormindo! É ser anseio.
É ser temeridade, é ser receio.
É ser força que os males equilibra!
Todo o bem que a mãe goza é bem do filho.
Espelho em que se mira a afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!
Ser mãe é padecer num paraíso!
Zezinho, 20/01/1.950
Na frente da escadaria da Catedral,
que estava sendo construída no
local onde ficava a igreja matriz.
Com 23 anos de idade eu já me considerava uma pessoa adulta. Muito embora não tivesse uma noção bem formada sobre a doutrina da Igreja Católica, sabia pelos ensinamentos de meus pais, que neste mundo "quem mal anda, mal acaba" e que a gente nunca se arrepende de viver honestamente. Praticar o bem e ser amigo de todos, este era o ensinamento de minha mãe, que sempre procurou pautar o caminho da verdade.
Antoninha e eu no jardim abaixo da Catedral.
Quando comecei a gostar da Antoninha, descobri nela uma pessoa toda envolvida na religião. Vocês imaginem uma pessoa que até então havia tido uma vida superficial na questão religiosa, se deparar com uma situação dessa natureza. Confesso que comecei a ir na igreja mais atraído pelo amor dela. Eu queria vê-la a todo instante, ainda mais quando ela estava toda vestida de branco com uma fita azul no pescoço, no meio de mais de cem moças todas elas vestidas de branco. Aquilo para mim era uma visão deslumbrante.
Antoninha está sentada, e está do lado esquerdo da foto.
Está com suas colegas filhas de Maria.
Havia também um contingente muito grande de Congregados Marianos, todos vestidos de terno branco com a fita azul. A igreja matriz de Londrina ainda era pequena, não era como a Catedral de hoje. Quando a gente entrava na igreja, aos domingos, se deparava com um quadro muito bonito: a metade da parte da frente da igreja ficava lotada, de um lado os Congregados e do outro lado as Filhas de Maria.
Depois que terminava a missa, eu acompanhava a Antoninha até a casa dela; lá ela preparava o café da manhã: leite, pão, manteiga e o famoso salame rosa. Como eu gostava!
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