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Aconteceu no Mês de Abril de 1.949

        Meu pai, toda minha família e eu fomos morar na Fazenda Cachoeira, que na época pertencia ao município de Assaí, hoje localizada no município de São Sebastião da Amoreira. O meu pai, Francisco Orquiza, tinha sido contratado pelo Sr. Geremias Lunardelli, “Rei do Café”, para gerenciar a fazenda, que era uma das maiores do estado em quantidade de alqueires de terra e plantio de café. Nesta fazenda havia também uma serraria bastante movimentada. A fazenda contava com uma grande área de mata de onde eram retiradas as toras para a construção das novas colônias que estavam por fazer.

 

Nesta foto estão Pedro, Francisco, Miguel, eu, Cláudio, Carmem (Nena), Maria Helena (Lenita) e Laura.

Nesta foto estão Pedro, Francisco, Miguel, eu, Cláudio,
Carmem (Nena), Maria Helena (Lenita) e Laura.

 

Meus irmãos Antônio, Francisco e eu.

Meus irmãos Antônio, Francisco e eu.

 

        Nesta nova etapa da vida, a família de meu pai era composta por minha mãe, Maria Haro, meus irmãos Antônio, Carmem (Nena), Cláudio, Laura, Maria Helena (Lenita) e eu. Os outros irmãos, Pedro, Francisco e Miguel ficaram trabalhando em suas atividades no Estado de São Paulo.

        Logo que chegamos à Fazenda Cachoeira, o meu irmão Antônio foi designado para trabalhar no escritório da própria Fazenda e eu fui destinado para o escritório de Londrina.

 

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Vista panorâmica da Fazenda Cachoeira, do alto de um mirante.

Vista panorâmica da Fazenda Cachoeira, do alto de um mirante.

 

        No dia 11 (onze) de abril de 1.949 me levaram para Londrina de Jeep da fazenda, dirigido pelo senhor Etelvino de Oliveira, já falecido. Nesse dia, saímos de manhã da fazenda Cachoeira, num clima de inverno, havia geado em quase todas as baixadas. Pelo caminho podíamos ver os mamoeiros e os pés de mamona queimados. Chegando a Londrina, logo na entrada havia uma placa com os seguintes dizeres: “Igual a você, existem 10.000”.

        Logo que chegamos a Londrina, fomos primeiro ao escritório do Lunardelli que ficava na Rua Espírito Santo, 1.257. Depois seguimos para o Hotel Atalaia, onde eu fiquei hospedado. O hotel ficava na rua Minas Gerais entre a rua Maranhão e a Sergipe. Londrina era uma cidade ainda provinciana de 18 a 20 mil habitantes.

        O abastecimento energético da cidade era feito pela Usina de Apucaraninha (Empresa Elétrica de Londrina), cuja sede dos escritórios ficava num prédio na rua Mato Grosso, esquina com a rua Santa Catarina, onde hoje é o estacionamento do Banco Bradesco. A central de transformadores ficava entre a Avenida Paraná e a rua Pará, abaixo da rua Brasil. A iluminação da cidade era muito precária, as lâmpadas pareciam mais tomates vermelhos. Muitas vezes ouvi os viajantes reclamarem que no período noturno não dava para fazer seus relatórios em vista da fraca iluminação.

        Além da iluminação ser fraca, tínhamos que suportar uma constante poeira vermelha. As ruas ainda não tinham calçamento e quando chovia formava um barro escorregadio. As casas geralmente eram cercadas de balaústres que às vezes serviam de apoio em dias de chuva, porque o barro mais parecia um sabão, muito liso. Um dia eu saí do trabalho para o almoço e havia chovido forte. Passando bem em frente ao antigo Cine Londrina – onde hoje é o Banco Itaú, ao lado do Banco do Brasil, no calçadão – escorreguei em uns morrinhos de barro muito lisos. Como não estava acostumado, perdi o equilíbrio e fui de costas no chão.

        Em todas as casas havia um limpa-pés que tinha o nome de “chora-paulista”. Era incrível como o barro grudava na sola dos sapatos. Quando comecei a trabalhar no Escritório do Lunardelli, percebi através dos negócios que se faziam, que Londrina era uma cidade que prometia muito. A gente percebia como as pessoas se movimentavam a procura de compradores de terras. Eram os corretores que iam com seus Jeeps para o Estado de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a fim de trazerem os futuros proprietários de terras.

 

José (em pé) no escritório do Lunardelli em Londrina.
Na foto aparece também Pedro Yasho.

José (em pé) no escritório do Lunardelli em Londrina.
Na foto aparece também Pedro Yasho.

 

        O senhor Geremias Lunardelli tinha grandes loteamentos de sítios e fazendas em Campo Mourão, São Pedro do Ivaí, Marumbí, Corumbataí, Reserva, Cândido de Abreu, Manoel Ribas e tantos outros lugares. Era um grande latifúndio, terras devolutas do Estado do Paraná, requeridas por todos os funcionários da empresa. Eu mesmo assinei vários requerimentos para aquisição dessas terras. Naquele tempo a gente não se dava conta do que estava fazendo, ou talvez se não assinássemos aqueles requerimentos, poderíamos ser dispensados do trabalho. Essas terras eram compradas a preço irrisório, preço de banana. Quantas e quantas vezes eu presenciei brigas de pessoas que cuidavam dessas grandes glebas de terras, por causa das invasões de posseiros, pessoas que se apossavam da terra, pessoas valentes de má índole, muito perigosas, até foragidas da polícia.

        Eu me lembro de um caso que o senhor Mário Guides, que tomava conta da gleba de terras do Corumbataí, contou para nós no escritório. Ele nos contou que havia um posseiro de índole brava na Gleba e que as ordens recebidas da Empresa Lunardelli era para expulsá-lo. O senhor Mário Guides não sabia como fazer. Daí ele começou a visitá-lo com mais freqüência, ao ponto de ser convidado para padrinho de um dos filhos do valentão. Depois que ficou compadre, um dia senhor Mário Guides falou com ele, que ia pedir as contas e ir embora dali, mas o valentão perguntou: - “Por quê o senhor quer ir embora?” O senhor Mário respondeu: - “Olha compadre, o senhor Geremias Lunardelli pediu que o senhor saísse das terras dele. Como eu não quero que o senhor saia, eu vou embora e o senhor fica aqui”. O compadre valentão disse: - “Não compadre. Quem vai sair daqui sou eu. Estimo muito o senhor e não quero que saia por minha causa”. Finalmente foi-se embora o valentão e o senhor Mário Guides continuou como administrador da gleba de terras. E nós, do escritório, tiramos uma lição, que a bondade vence mais que a violência e se vive em paz.


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