A cruz não é
o termo. A dor não é o último destino do homem. É um caminho e nada mais, um
meio para chegar ao gozo do Senhor.
E Jesus quer dar uma
amostra desse gozo aos três discípulos que hão de presenciar, mais de perto,
os tormentos da sua Paixão.
Ao regressar de Cesárea,
chegou, com os Doze, em uma tarde de Agosto, ao sopé do Tabor, montanha
graciosa, símbolo da felicidade sobrenatural, do amor beatífico, do abraço de
Deus.
Deixou nove discípulos na
falda do monte e, levando consigo Pedro, Tiago e João, subiu ao cume, para
orar.
Dizem que Pedro representa
os constantes na fé, Tiago os firmes na esperança, João os ardentes no amor.
Pedro é o vigário de Jesus Cristo; João, o discípulo virgem; Tiago, o
primeiro Apóstolo mártir.
Chegando a um lugar
tranqüilo, começaram a orar. Jesus prolongou a sua oração, mas os discípulos
estavam rendidos de sono.
Adormeceram.
“Enquanto Jesus orava
transfigurou-se diante deles e o seu rosto resplandecia como o sol e as suas
vestes tornaram-se brilhantes e duma alvura extrema, como a da neve. Neste
instante apareceram Moisés e Elias em forma gloriosa, falando com Ele; e
falavam da sua saída (deste mundo), que havia de cumprir-se em Jerusalém. Os
discípulos ao despertar, viram a glória de Jesus e os dois varões que estavam
com Ele”.
Que impressão para os
três! Ver o seu amado Mestre, cheio de graça, formosura e majestade, a
conversar com aqueles dois santíssimos varões: Moisés, o libertador do povo
judeu, e Elias, o grande profeta mártir, que durante a vida haviam ansiado
pela vinda do Ungido do Senhor e agora eram chamados do outro mundo para o
ver, ouvir e Lhe falar...
A Transfiguração é a
vitória da luz: Elias foi arrebatado ao Céu em carro luminoso de fogo; Moisés
desceu do monte com feixes de luz na fronte. Jesus é a luz eterna, é luz da
luz que ilumina a todo o homem que vem a este mundo.
Desde que nasceu, a beleza
divina da sua alma não cessou de crescer aos olhos dos homens. Agora brilhava
deslumbrante. Transparecia através do corpo e do vestido. Erguia o seu corpo
acima da terra, e se Jesus não tivera atendido senão às exigências da sua
natureza divinizada, ter-se-ia realizada ali a ascensão. Mas renunciava a ela
e falava com os dois aparecidos a respeito de como havia de sair da vida
mortal.
Elias saíra sem morrer.
Moisés saíra morrendo, mas de morte tão suave que a Escritura afirma que
expirou no ósculo de Deus. Ambos conheceram, sobre este monte, uma ciência
mais alta. A ciência de preferir a morte: a ciência de morrer de maneira infame
em uma cruz, nu, desprezado, escarnecido pela multidão, abandonado do próprio
Deus, para realizar assim a redenção dos homens.
Eis do que se falava sobre
o Tabor. Moisés e Elias contemplavam estáticos, mudos de assombro e de
admiração, aquela maneira de sair da vida, única, maravilhosa, digna de
Jesus.
Nem Pedro nem Tiago nem
João compreendia aquilo. Só viam a glória. E como amavam ternamente o seu
Mestre, assistiam radiantes à sua glorificação. A Pedro que, como os grandes
corações, tinha o segredo das frases belas, ocorreu uma admirável: “Senhor,
como se está bem aqui: façamos três tendas, uma para Ti, outra para Moisés e
outra para Elias”.
Para si não pedia nada,
porque tinha a certeza de participar da glória do seu bom Mestre. Mas o
Evangelista adverte que falando assim, “Pedro não sabia o que dizia”.
“Estando Ele ainda a
falar, veio uma nuvem luminosa que os envolveu e ao entrarem na mesma tiveram
medo. E eis que saiu da nuvem uma voz que dizia:
-
Este é o meu Filho amado em quem pus toda minha complacência.
-
Ouvi-O. Ouvindo aquela voz, os discípulos caíram de bruços e tiveram
muito medo. Porém, Jesus aproximou-Se deles, tocou-lhes e disse:
-
Erguei-vos e não temais. Eles, então erguendo os olhos e olhando à
volta, não viram ninguém senão Jesus”.
Tudo voltara ao estado
normal. O rosto de Jesus perdera o seu fulgor, a túnica era como todos os
dias e Ele voltava a ser o Amigo carinhoso de cada hora.
Nessa noite, porém, três
homens tinham assistido à glória do Nazareno e escutado a voz de Deus: - Este
é o meu Filho muito amado; escutai-O.
E um deles, Pedro, poderá
um dia escrever nas suas cartas: “Nós escutamos esta voz descida do Céu,
quando estávamos com Ele no monte santo”.
E para defender a verdade
do seu testemunho, viria a morrer mártir. Antigamente, Deus falou aos
Patriarcas por meio dos Profetas. Agora fala-nos por meio do seu Filho. Com
Ele dá-nos tudo, por Ele nos diz tudo: Escutemo-lo. Quando desciam do monte,
Jesus interrompeu o silêncio em que vinham, meditando no que acabavam de ver,
e disse-lhes: “A ninguém direis o que vistes, até que o Filho do Homem
ressuscite de entre os mortos”. E
eles calaram-se durante aqueles dias e não disseram a ninguém o que tinham
visto; mas, de si para si, cogitavam o que significaria quando ressuscite de
entre os mortos. Parecia-lhes impossível que o seu Mestre pudesse morrer e
estar os mortos e por isso desconfiavam que aquela frase tivesse qualquer
sentido misterioso.
Apagadas as luzes do
Tabor, tinham de descer às misérias da vida diária, às rivalidades dos fariseus,
aos ataques do Tentador. Já não viam as claridades do monte nem escutavam a
voz do Pai. Não é possível permanecer sempre no gozo das alturas. É preciso
descer. Mas continuaram eles e continuamos nós escutando a voz do Filho nas
palavras do seu Evangelho “que fazeis muito bem em atender, como a luz que
brilha no meio das trevas, até que nasça o dia e se acenda a luz nos vossos
corações”.
Assim nos diz,
aconselhando-nos a ouvir a palavra de Deus escrita, o próprio São Pedro,
aquele ditoso apóstolo que escutou a sua palavra falada.
Fazeis muito bem
atendendo-a, que a sua palavra é luz e esta vida é uma passagem tenebrosa.
Esperai algum tempo: também para vós brilhará o dia de uma transfiguração
maravilhosa e nascerá em vossos corações uma torrente de luz e ficareis
convertidos em claridade e seres semelhantes a Deus, porque O vereis tal como
é: não brilhante como o Sol, não branco como a neve, mas como é... E
cantareis eternamente o hino de gratidão e de amor:
Senhor! Como estamos bem
aqui!
CATEQUESE INFORMATIVA
JOSÉ ORQUIZA
(Pesquisa do Portal
Católico)
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