17 de Julho de 2005
Comemorado no Salão de
Festas do
Condomínio Fechado Vale do Arvoredo
Aos meus filhos e filhas
Eu
quero lembrá-los de que o tempo é implacável, tudo passa, já beirando os meus
oitenta anos, não sou o mesmo e peço que tenham paciência comigo e também
compreendam as minhas dificuldades. Atualmente eu estou fazendo a comida para a
mãe e para o Fernando, parece que eu recebi esse dom de minha mãe. Aos domingos
eu tenho de melhorar o rancho, porque já é de praxe os filhos, os genros, noras
e netos virem almoçar em casa, isso nos causa muita alegria.
Eu
sei que quando vocês conversarem comigo, vão notar que sempre vou repetir as
mesmas histórias, que eu sei que vocês sabem como terminam, ainda me lembro
quando vocês eram pequenos, para que vocês dormissem tive que contar muitas
vezes a mesma história até que vocês fechassem os olhinhos.
Daqui
a pouco tempo vocês vão me ver um velho inútil e ignorante na frente das novas
tecnologias que já não poderei entender, eu peço que me dêem todo o tempo que
seja necessário, e que não riam de mim com aquele sorriso de caçoada.
Hoje
acontece que as vezes estou conversando, eu me esqueço do que estava falando,
espero que tenham paciência e me ajudem a lembrar. O que importa para mim
naquele momento seja o fato de ver vocês perto de mim, e não o que falávamos.
Quando
minhas pernas falharem por estarem envelhecidas e cansadas, e eu já não
conseguir mais me equilibrar, com ternura, dêem-me as suas mãos para me apoiar,
como eu fiz quando vocês começaram a caminhar com as perninhas ainda tão
frágeis.
Pode
acontecer que um dia vocês poderão ouvir dizer que eu não quero mais viver,
peço que não se aborreçam comigo. Algum dia vocês vão entender que isto não tem
a ver com o carinho de vocês ou com o quanto eu amo vocês.
Vocês
todos devem compreender o quanto é difícil ver a vida abandonando aos poucos o
meu corpo, e que é duro admitir que não tenho o vigor para correr ao lado de
vocês, ou para pegar vocês em meus braços como antes, saibam o que ainda posso
fazer é rezar todos os dias pedindo a proteção, porque sempre quis o melhor
para vocês e é um desejo de pai, para que o mundo seja mais confortável, mais
belo, e mais florido para seus filhos.
Vocês
não fiquem tristes por me verem assim. Peço que não tenham dó de mim, eu quero
apenas o coração de vocês, para que compreendam e me apoiem como fiz quando
vocês começaram a viver. Isso é o que me alegra e dá coragem.
Da
mesma maneira que eu acompanhei vocês no início de suas jornadas, peço que me
acompanhem para terminar a minha. O final da vida se aproxima, o que peço a
vocês todos é amor e muita paciência, eu devolverei para vocês sorrisos e
gratidão, com o mesmo amor que sempre tive por vocês.
José Orquiza